terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Agonia da Igreja

Os textos que irei postar hoje e nos próximos dias, são do sérvio Nikolai Velimirovic.
Eu tive de traduzi-los do inglês, pois meu conhecimento parco de sérvio não permite algo melhor.
O texto "A Agonia da Igreja" é de 1917. Vamos aqui traduzir o primeiro capítulo deste ensaio: "A sabedoria da Igreja Sophia". A edição que uso é Short Works of Nikolai Velimirovic, Bibliobazar, 2008. O texto "A Agonia da Igreja" está nas páginas 33 a 94. Vou postar um texto que se encontra entre as páginas 33 a 53. Espero que esses textos possam abrir os leitores para a riqueza da Igreja Ortodoxa, que eu tanto amo e admiro, ainda que eu não seja ortodoxa. E possam fazê-los conhecer também autores sérvios, autores intensos e cheios de energia espiritual.

A Agonia da Igreja

Prólogo:
A Igreja do Oriente, a Igreja dos Apóstolos e Mãe de todos nós, neste livro, fala às suas crianças de todas as terras e línguas e para nós, com uma autoridade, sabedoria e ternura toda própria. O autor e os editores estão prestando um serviço do melhor tipo ao emiti-lo. Possam as bençãos de Deus repousar sobre ele.

Pensamentos Introdutórios:

Se a igreja oficial não teve qualquer mérito mas preservaram Cristo como o tesouro do mundo, ainda assim eles são justificados. Mesmo que ele só tenho repetido ao longo dos séculos passados "Senhor! Senhor!" ainda assim ele se colocam acima do mundo secular. Pois eles conhecem, pelo menos, quem o Senhor é, enquanto que o mundo não sabe.

Igrejas podem desaparecer, enquanto que a Igreja nunca irá. Pois as igrejas não são obra de Cristo, mas o é a Igreja. Ademais, se a Igreja desaparecesse como instituição, a essência da Igreja não poderia desaparecer. É como rios, mar e água: quando os rios desaparecem vão dar no mar, o mar permanece, e se o mar desaparecer no vapor, a água permanecerá.

Se Cristo sempre pretendeu formar a Igreja como uma instituição, Ele pretendeu formá-la não como um fim, mas como meio, como um barco que serve para levar seus ocupantes com segurança sobre o oceano tempestuoso da vida para o porto tranquilo do seu Reino.

Como o corpo no banho, assim a alma se despe na Igreja para ser lavada. E assim que saímos, escondemos nossa alma a fim de ocultá-la de olhos curiosos. Não é ilógico que ousemos mostrar nossas imperfeições ao Mais Perfeito, enquanto nós estamos envergonhados de mostrar àqueles que são tão imperfeitos, feios e sujos como nós? A Igreja, como o banho, revela mais a impureza.

A ideia inicial e mais óbvia da Igreja é a de coletividade de pecado e salvação. Rezar sozinho e por si mesmo é como comer sozinho sem reconhecer a fome alheia.

Quando o sol vê um homem de ciência, de posses ou um político, ajoelhando-se para rezar com o pobre e humilde, ele vai sorrindo para seu repouso.

Plena de beleza e maravilha são todas as Igrejas Cristãs, mas não por causa de sua perfeição pretendida: elas são lindas e maravilhosas por causa dEle, de quem elas são sombra.

Você é um cristão? Então não tema entrar em qualquer Igreja Cristã com respeito reverencial. Todas as Igrejas juraram fidelidade ao mesmo Soberano. Como você pode respeitar um chalé em que habitou certa vez Sua Majestade o Rei Alfredo, ou Carlos, e não vai ao mesmo tempo para a edificação dedicada à Sua Majestade, o Invisível Rei dos Reis?

O real valor de qualquer comunidade Cristã não é para ser encontrado em sua própria posteridade mas em seu cuidado com as demais comunidades cristãs. Assim, por exemplo, o valor dos protestantes deve ser encontrado em seu amor cuidadoso para com a Igreja Católica Romana, e vice versa.

Considerando o padrão acima, nós verificamos que quase todas as Igrejas Cristãs são bastante sem valor em termos espirituais, isto é, em seu cuidado amoroso não usual. O valor atual é mais físico do que espiritual, sendo limitado o cuidado uns pelos outros. Exceções são refrescantes como oásis no deserto.

Igreja e estado são como fogo e água. Como uni-los? Se forem unidos o fogo sempre morrerá na presença da água.

Há três Idades na história da Igreja: a Idade de Ouro, quando a Igreja se opôs ao governo político; a Idade de Prata, quando ela estava dirigindo politicamente os reinos da Europa; a Idade da Pedra, quando ela tem sido subjugada pelos governos políticos. Que humilhação para as gerações presentes viver na Idade da Pedra da Cristandade!

Tentar unir Igreja e Estado é tentar unir o que Deus separou desde o início de nossa era.

Separar a Igreja do Estado não significa, como muitos pensam, separar a alma do corpo; significa separar dois espíritos quase opostos, nada aparentados e hostis um ao outro, como a Cruz e o Capitólio.

O verme do conforto e inércia humana reconciliou a Cristandade com o secular, os governos pagãos, e assim paralisou o mais divino movimento na História Humana. Vá ao fundo de todas essas defesas inteligentes da unidade da Igreja e do Estado, e você encontrará, como primeiro motor, o verme do conforto e da inércia humana.

Todas as Igrejas e Instituições Cristãs do tempo presente, ainda que possam ser maravilhosas, são apenas uma obscura profecia da dignidade cristã em Espírito e em Verdade. Por meio delas nós vemos o futuro como que por um espelho.

A cristandade não é nem monárquica, nem republicana. Ela não se importa com instituições mas com o espírito que vive nelas. A melhor instituição é aquela que é mais plena do espírito de Cristo. Deste ponto de vista uma autocracia pode ser melhor do que uma república, e vice versa.

A verdadeira Cristandade foi escondida de nós como o ferro e o carvão foram desconhecidos pelos homens da Idade da Pedra. Eles caminhavam sobre ferro e carvão, mas se serviam de pedra e madeira apenas. Assim nós estamos caminhando sobre e ao redor de Cristo, mas ainda usamos em nossa vida diária os deuses pagãos dos antigos.

Se existe uma nova época geológica, com um novo tipo de homem, ela será a época cristã. Todos os tipos existentes foram feitos pela revolução e influência da terra e água, ou do fogo e do ar. Agora apenas a Revolução Cristã - eu quero dizer literalmente e não alegoricamente - pode produzir um tipo mais elevado de animal humano.

Meu amigo, você está desgostoso com as Igrejas que existem, e você está ansioso para formar uma nova Igreja, ou seita, ou algum tipo de organização religiosa! Quão imaturo é você! As igrejas existentes são os mais belos vasos - alguns de ouro, outros de prata ou cerâmica - feitos por milhares de anos e gerações. Eu sei que sua insatisfação vem do vazio destes vasos e não por conta de sua feiura. Bem, então despeje o vinho divino neles e eles lhe agradarão como os vasos em Caná da Galileia agradaram o povo sedento ao redor da mesa. Nenhuma daquelas pessoas, estando com sede, pensou em fazer novos vasos com o vinho, mas em obter vinho o mais rapidamente possível para por nos vasos. Despejar o vinho nos vasos que já existem, este é de fato o milagre que necessitamos, meu caro resmungão!

As pessoas dizem: Leia a Bíblia! Eu quase digo: Não toque na Bíblia por cinco anos - leia outra coisa durante este período - e então leia-a novamente, e você verá sua real grandeza, poder e doçura!

As chagas de Cristo lavraram mais bençãos no mundo do que a saúde de todos os Césares Romanos.

A Eucaristia não significa uma memória apenas, mas também uma profecia. A profecia dela é, que a terra inteira se tornará o corpo de Cristo, a carne e sangue de Cristo, e assim que o que quer que nós comamos ou bebamos nós O comemos e bebemos.

Ele deve ser nosso alimento diário. Com respeito a toda nossa comida através de Cristo, não quero dizer que a natureza é nossa vítima, mas que também ela se sacrifica por nós, lembrando-nos o sacrifício de Cristo, e por meio dela nos chamando também ao sacrifício.

Você também precisa optar ou em ser orgulhoso ou pobre em espírito. O primeiro significará uma destruição barulhenta, o segundo uma tranquila construção.

Nela não há coisa sublime ou significativa no mundo inteiro da qual eu não pudesse encontrar uma representação em mim mesmo, e nenhuma na qual eu não esteja plenamente representado.

A beleza, glória e grandeza de um campo de trigo dourado consiste de uma associação de inumeráveis feixes de trigo, com sua beleza, grandeza e glória insignificantes. Se você já presenciou isso, então não repita para mim a velha história da beleza, grandeza e glória humana de um Pitágoras, César ou Napoleão.

Os povos mais poderosos e ricos , que nós somos acostumados a admirar e imitar, foram os mais dignos de pena para Cristo. Hoje, como sempre, as missões cristãs mais difíceis estão entre os ricos.

Nós nunca revelamos nosso real valor pelo uso de nossos direitos, mas pela nossa capacidade para o serviço e o sacrifício.

É mais fácil para um homem obter seus próprios direitos do que perder seu orgulho.

Sacrifício sem murmúrio faz de nossa vida tempestuosa um calmo dia santo. Nós encontramos todos os dias a conversa de pessoas que por um lado, relutam em se sacrificar e, por outro, ousam em se sacrificar. Desgosto e admiração são duas águas em que nosso coração pode ser banhar do nascer ao por do sol. Não há nada que excite mais o desgosto humano do que a audição: "Ele é incapaz de sacrifício". Quando esta sentença é dirigida para nós, sentimos como se tivéssemos perdido a batalha inteira de nossa vida.

Os sistemas metafísicos possuem maior valor para o progresso científico do que da humanidade. A partir de Hegel você pode construir uma nova ciência, mas a partir de São Paulo você pode construir uma nova vida social e um novo mundo político. Você já pensou que São Paulo é o maior profeta de um novo e desejável estadista?

Todos os impérios fundados a partir do Direito pereceram e devem perecer. O Futuro pertence ao Império de São Paulo, um Império fundado a partir do amor ao serviço.

É melhor em humildade pertencer à pior de todas as Igrejas do que orgulhosamente separar-se a si mesmo da melhor das Igrejas.

A origem aristocrática é tão inescrutável quanto a escuridão da noite passada. Um aristocrata poderoso de hoje pode ser do pior tipo de alma, e o mendigo à sua porta do tipo mais nobre. Mas respeito ambos igualmente, amando-os ambos que são da mesma origem real. Os mais nobres nomes aos seus filhos! Pela mesma razão respeito ovelhas, e árvores e pedras.

Os crucificadores de Cristo em nosso tempo são aqueles que pensam que o Evangelho de Cristo não pode ser considerado como a base para a política do mundo. Não foram as últimas palavras Dele: 'ide em todas as nações'? A última e suprema expressão da Cristandade estará nas relações de  nação para nação, como sua expressão de partida foram as relações de homem a homem.

O inter-individualismo foi a escola elementar da Cristandade. O inter-nacionalismo deve ser sua universidade.

A ética cristã, isto é, o serviço e sacrifício solícitos, é a mais nobre consequência da crença real em Deus. Nenhuma linha que possa atar nosso planeta com o centro do Universo é menor do que a que parte através de Cristo. É o caminho mais curto, como a linha reta é a distância mais curta entre dois pontos geométricos.

Escravidão significa serviço obrigatório; liberdade deve significar serviço solícito. Apenas um homem ou uma nação educados para o serviço solícito para com seus vizinhos é um homem ou uma nação livre. Todas as outras teorias da liberdade são ilusórias. Liberdade pedindo por direitos e não o serviço solícito significa uma querela sem fim coroando com a infelicidade todos os competidores. Nem a República de Péricles, nem a monarquia de Otávio foram estados de felicidade, mas o estado pan-humano de São Paulo, com uma simples Magna Carta do serviço solícito, será o Estado da Felicidade Universal.

Todo homem é um campo de batalha de muitos espíritos imundos, muito audaz na ausência de Cristo e muito tímido em Sua Presença. Ó quantos destes espíritos que encontrar uma habitação fácil em nós faria até mesmo os porcos se enraivecerem a ponto de se lançarem de um lugar íngreme direto ao mar!

A convicção de que a mentalidade de Maquiavel, Metternich, Bismarck e Beaconsfield pode ser tomada como a base da política, enquanto que a mentalidade de Cristo não poderia, é a convicção mesma de muitos teólogos. No entanto, Cristo sobrevive a todos estes políticos com um poder eterno, porque ele é o mais pato de todos eles.

Que filosofia obscura é esta que ensina que Moisés e Maomé tem algo a ver com política e Cristo não tem!

Carlyle e Emerson foram super ansiosos ao recomendar a todo grande homem a ser líder da humanidade mais do que Cristo. É o mesmo que dizer: Homens! Tomem velas e lâmpadas para iluminar seus caminhos na escuridão mas sejam cautelosos com o sol. Quão diferentes são Dostoievski e Tolstói.

Eu observei homens em oração e pensei: Eis anjos caídos! Eu olhei novamente para eles em querelas cheias de ódio e pensei: Eis demônios nascidos!

Animais são cruéis mas não vulgares. Tanto em crueldade quanto em vulgaridade o homem bate record. Se forçá-los a escolher entre um dos dois males, nós devemos preferir a crueldade em detrimento da vulgaridade.

Todos os nossos "hojes" são espoliados pelas reminiscências de ontem e as preocupações sobre amanhã. Assim nós estamos desindividualizando e esvaziando nossos "hojes" e degradando-os como um misto do encontro entre ontem e amanhã.

De um ponto de vista físico a maior coisa nesta vida é um mistério. De um ponto de vista moral a maior coisa é uma interpretação otimista dessa mistério. Não há otimismo razoável fora do cristianismo.

Ninguém pode ser um tirano a menos que sejamos escravos de alguns defeitos morais.

Nenhuma nação pode tiranizar contra outra a menos que sejamos tiranizados por nós mesmos com algumas ilusões.

Ninguém no mundo é livre a não ser aquele que se sente um cativo de Cristo. O maior campeão da liberdade na história humana chamou a si mesmo: "Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo".

Capítulo 1:
A sabedoria da Igreja Sofia.





O santuário mais magnífico da Igreja Oriental é chamado de St. Sofia (Hagia Sophia à Sagrada ou Santa Sabedoria), enquanto que os santuários mais magníficos da Igreja Ocidental são chamados São Pedro, São Paulo, São João, etc. Como qualquer cabelo em nossa cabeça, como também qualquer linha na palma de nossa mão possui um certo significado, assim também estas dedicações da Igreja possuem um certo significado. E este significado é típico da religião do Oriente e do Ocidente. A cristandade Ocidental cresceu sob o solo de um juvenil individualismo, e deu prioridade a isto ou à personalidade dos apóstolos, para quem dedicou seus melhores templos. A idosa Igreja do Oriente, cansada de ambições individualistas, cansada dos grandes homens, flagelada pelo fantasma da grandeza humana, era sedenta de alguma coisa maior e mais sólida do que a personalidade humana. Adoração de personalidades continua sendo a sabedoria deste mundo, o Oriente dá suas mãos a um ideal super-humano, à Sagrada Sabedoria. É um fato psicológico que os jovens vejam seus ideais na grandeza pessoal no progresso rumo à santidade. O Oriente perguntou por algo mais eterno do que Pedro, Paulo ou João. Existe a sabedoria e existe também a sagrada, santa sabedoria. A sabedoria filosófica ou pessoal existe desde os primórdios da humanidade, mas a Sagrada Sabedoria entrou no mundo com Jesus Cristo. Cristo foi a encarnação da sabedoria de Deus, de toda a Santa sabedoria. Esta sabedoria se estende acima de toda a sabedoria humana e a revigora e ilumina. A Sagrada Sabedoria inclui a sabedoria essencial de Pedro, Paulo, João e qualquer outro apóstolo ou profeta, ou qualquer outra coisa ou criatura, como o oceano inclui o mar de muitos rios. Em tempos escuros de dissensão, incerteza ou o sofrimento, a Igreja do Oriente não se fiou tanto nos grandes apóstolos, nem Pedro, ou Paulo, ou João mas olhou para além do tempo e espaço, para o Cristo Eterno, o Logos de Deus e rogou por Luz. E olhou para a eternidade desta Igreja em Constantinopla, Santa Sofia, que tudo envolve, que tudo reconcilia, como um símbolo santo. Tanto Pedro, ou Paulo, ou João , ou qualquer outro apóstolo, ou profeta, tornou-se o fundamento das querelas entre os crentes, mas foi na Santa Sabedoria que eles encontraram refúgio e se curaram de sua unilateralidade e inimizade.
Ainda que a Santa Sabedoria tenha apenas no Oriente um símbolo magnífico muito visível, a Santa Sabedoria não é nada menos do que o fundamento, substância e objetivo da Igreja Ocidental tanto quanto da Igreja Oriental, sim da única, santa Igreja Católica. Pois a Cristandade não foi destinada nem para o Leste apenas, nem para o Oeste, mas para todo o globo terrestre. E  o que significa o tão abusado termo “católico” se não a inclusão? Este é também o significado da Sabedoria Divina revelada na Cristandade desde seu início.
Eu tentarei mostrar essa sabedoria inclusiva da Igreja, revelada desde o início. Primeiramente com o Fundador da Igreja, em segundo lugar na organização da Igreja e em terceiro lugar na destinação da Igreja.

A sabedoria inclusiva do fundador da Igreja

Pelo seu nascimento Ele incluiu e reuniu todos, desde o mais baixo ao mais alto, o natural e o sobrenatural: estábulo, manjedoura, palha, ovelhas e pastores de um lado; estrelas, anjos, magia e uma origem real davídica de outro.
Em sua vida ele incluiu a austeridade dos monges da Índia, de João Batista e dos Nazarenos por um lado; e por outro, o banquete moderado de Confúcio, nas casas dos amigos, na festa matrimonial ou em outras ocasiões solenes.
Sua vida foi entrelaçada à vida de pessoas de todas as classes; homens, mulheres e crianças, judaístas e pagãos idólatras, o Rei Herodes e o pró cônsul Pilatos, sacerdotes e soldados, mercadores e mendigos, sofistas versados e tolos ignorantes, enfermos e sãos, justos e pecadores,  Judeus e Egípcios, Gregos e Romanos, e todos aqueles outros que podiam ser encontrados na Palestina, o lugar de todas as raças e credos.
Ele não foi de modo algum um homem partidário, como os fariseus e os doutores da Lei. Mas ele chamou tanto os fariseus quanto seus inimigos a segui-Lo. Ele foi ao templo para rezar, mas Ele rezou também sozinho no deserto. Ele guardou o Sábado, mas Ele também quebrou o Sábado ao curar um doente e fazer o bem neste santo dia. Ele não veio destruir a Lei, mas ele trouxe algo maior do que a Lei e ainda incluiu a Lei mesma, isto é, amor e misericórdia.
Ele censurou pessoas que costumavam rezar dizendo: “Senhor! Senhor!”. Ainda que Ele mesmo rezasse frequentemente. Ele censurou aqueles que ficavam jejuando, ainda que Ele mesmo jejuasse. O que Ele realmente olhava não era nem para a oração, nem para o jejum, mas o espírito em que se jejuava ou rezava.
Ele ordenou o povo a dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Ele não censurou esta ou aquela forma de governo, nem acentuou nem o Monarquismo, Republicanismo, ou Socialismo como formas preferíveis sobre outras. Sob Este esquema todas as formas de governo estão incluídas como igualmente boas ou más de acordo com o lugar que elas reservam para Deus, quais dons se dão regularmente a Deus e por qual espírito eles são inspirados.
Ele seguiu o costume de Sua nação, e não os quebrou ou se evadiu propositadamente. Ele tocou comida de acordo com a Lei, e foi à Cidade Santa e tomou parte na veneração do templo (“ainda que Ele fosse maior do que o templo!”), seguindo a Lei. Parece que Ele não excluiu nenhuma forma de veneração ou vida social, ainda que Ele desprezasse o espírito impuro e mesquinho com o qual os hipócritas ornavam estas formas. E quando Ele veio para a disputa, Ele, o Mensageiro de um novo espírito, naturalmente procurou salvar o espírito puro sem referência a qualquer forma do que uma forma ornada de espírito impuro. Finalmente ele se sentiu constrangido a dizer: “Não é o que entra na boca do homem que o torna impuro”, ou “comer com as mãos não lavadas não torna o homem impuro”, ou “Tu, quando Tu fores rezar, entra no teu quarto”, etc.
E assim também Ele abraçou todas as nacionalidades e raças. Nada daquilo que Deus criou era impuro para Ele, nada a não ser o espírito impuro. Quando o centurião romano pediu-lhe ajuda, Ele a deu prontamente. E quando o povo além das fronteiras israelitas, das costas de Tiro e Sidônia, creram nEle, Ele não deu ouvidos às advertências exclusivistas de Seus discípulos, mas distribui mesmo lá Sua divina misericórdia. Ele foi cuidadoso mesmo com as pessoas de Nínive. E quando Ele enviou Seus discípulos, Ele os enviou a “todas as nações”.
Finalmente ele incluiu o natural e o sobrenatural. Ele conversou com espíritos. Ele viu satã como o relâmpago caído do céu. Ele esteve entre Pedro, João e Tiago de um lado, e Moisés e Elias de outro. Todas as pessoas viram lírios no campo e aves no céu, mas Ele viu além, Ele viu como, Seu Pai vestia os lírios do campo e como Ele alimentava os pássaros. Ele uniu o natural e o sobrenatural em seus ensinamentos.
“Amai vossos amigos”, era o ensinamento natural. Mas Ele acrescentou: “e aqueles que vos odeiam e perseguem”, que era sobrenatural.
“Dai a quem vos dá”, era um ensinamento natural. Mas Ele acrescentou: “e aqueles que Vos amaldiçoam”, que era sobrenatural.
E Ele uniu o natural e o sobrenatural em sua morte. Ele sofreu e morreu em agonia. Ele ressuscitou da morte, desceu do Céu e ascendeu ao Céu. Por Ele houve tão poucos limites entre Céu e Terra, entre Natureza e SobreNatureza, como entre Israel e Canaã, ou entre homem e homem, ou forma e forma.
Sua sabedoria era inclusiva do início ao fim. O que Ele excluiu, salvo o espírito impuro? Seus discípulos eram tão exclusivistas como qualquer um costuma ser, ser exclusivista é julgar e agir de acordo com a sabedoria natural. Mas quando eles olharam para Ele, eles foram reconciliados. Era a Santa sabedoria, em que qualquer um podia encontrar uma morada para si mesmo, todo discípulo, toda nação, toda forma de veneração, tudo – salvo o espírito impuro.

A Sabedoria inclusiva na organização da Igreja
Veremos agora a Igreja Cristã nos primórdios de sua formação.
Jesus Cristo deu o maior esquema possível em que trabalhar e a maior fundação para construir. Não há outro nome na história sobre a qual qualquer coisa possa ser edificada senão Seu Nome. A Igreja Primitiva declarou isso e o realizou desde o início. Ela era inclusiva por princípio, inclusiva nos ensinamentos e na adoração.
aa)    Inclusiva nos Ensinamentos – Cristo foi posto no início da História do Mundo. Ele representou o que foi o melhor e mais elevado pensamento no Leste e Oeste. O sonho messiânico era a melhor e mais elevada das concepções judaicas. Bem, Jesus era o Messias.
A espera de um segundo Adão, a redenção do primeiro, o Adão pecador, era comum entre as pessoas da Palestina e da Mesopotâmia. Bem, Jesus foi o segundo Adão, o Redentor Esperado, o Mensageiro de Deus.
O Egito tinha uma intuição do mistério da Divindade como uma Trindade. Porém isso foi esboçado como a ideia de uma Trindade concebida como uma família de Pai, Mãe e Filho, ainda existente muito vividamente no Egito. E as pessoas esperavam a vinda apenas do Filho de Deus, a terceira pessoa da Trindade deles, não um ser imaginário como Hórus, mas o filho real de Osíris em carne e sangue que traria felicidade aos homens. Bem, Jesus de Nazareth era este Filho de Deus, e Ele como Cristo foi um compartilhador eterno da Divina Trindade.
A Índia foi o berço do ensinamento acerca da Encarnação. O Deus Supremo, Brahma, já encarnou em muitas pessoas desde os primórdios da História. Mas a maior Encarnação Dele ainda estava por vir. Bem, Jesus Cristo foi a maior encarnação de Brahma na forma humana.
Os cultivados politeístas não gostavam da ideia de uma monótona teologia de um Deus solitário. Eles preferiram uma Divina Associação no Olimpo. Bem, a Cristandade com seu ensinamento Trinitário representou para eles um limitado politeísmo. Deus não era fisicamente único, como no Judaísmo, nem muitos, como no Helenismo. Ele era uma Pluralidade Trinitária na Unidade. Ele não era um severo eremita, mas Ele tinha a riqueza de uma vida eterna.
Os intelectuais gregos e helenistas evoluíram para a ideia de Um Deus e do Logos, o Mediador entre Deus e o mundo, através do qual Deus criou tudo o que Ele criou, e que pode ser encarnado para a salvação dos caídos, a criação sofredora. Bem, Jesus Cristo poderia ser identificado em Sua Pessoa com esta maravilhosa doutrina do Neoplatonismo.
A região montanhosa  do Cáucaso e Ararat, unida ao mistério de Mithras, que nasceu da dualista religião de luz e trevas do Zoroastro, de Ormuzd e Ahriman. Bem, Cristo, o amigo da humanidade revelou-se como o Deus da Luz que luta contra Satan, o inimigo da humanidade.
Roma que politicamente regulava o mundo, estava a espera da vinda de um Rei Sagrado, por um Príncipe da Paz, que deveria vir do Leste e trazer ao povo alguma felicidade mais elevada e verdadeira, do que a quimera decepcionante da grandeza política. Bem, Cristo deveria ser este universal, Rei consagrado, este Príncipe da Paz, e Mensageiro de uma felicidade perpétua. Não é verdade que Cristo tivesse seus profetas apenas entre o povo de Israel. Seus profetas existiram de todas as raças, todas as religiões e filosofias da antiguidade. E esta é a razão pela qual o mundo inteiro pode clamar a Cristo, e como Ele pode ser pregado a todos e ser aceito por todos. Observai! Ele esteve na casa de todo mundo!
(b) Inclusão na Adoração – Em sua doutrina de inclusão, a Igreja primitiva era sabiamente inclusiva na adoração também. Seria sem sentido falar da adoração Cristã como de algo quase novo e surpreendente. Houve pouca inovação e foi muito pouco surpreendente, de fato, quase nada. A primeira Igreja encontrou adoradores no templo Judeu. Onde quer que os apóstolos quisessem pregar o novo Evangelho, eles iam a velhos lugares de oração, para os templos de Jeová. Seu espírito cristão não se revoltou contra as formas antigas de adoração.
Mais tarde, quando o Espírito Cristão foi despido ele precisou ser revestido, e assim se fez. Mas quando Israel olhou para a adoração cristã eles reconheceram muito – formas, sinais, vestimentas e administração – como se fossem as suas próprias. E não apenas Israel, mas mesmo o Egito, a Índia, a Babilônia e a Pérsia, a Grécia e Roma, sim, os pagãos do Norte e do Sul. Se a Natureza pudesse falar, ela poderia dizer o quanto a adoração Cristã lhe tomou emprestado.
Um estudante de história antiga uma vez perguntou-me: “Como eu posso reconhecer a religião Cristã como a melhor de todas, quando eu sei que ela pegou emprestado das religiões antigas formas de adoração? Quão pobre ela parece sem elas!”
Eu disse: “Apenas este poder maravilhoso de abraçar e assimilar tudo é que torna evidente a vitalidade e universalidade da Cristandade. É muito extenso em espírito ser vestido por uma nação e raça apenas. É muito rico em espírito e destinação ser expresso por uma língua, por um sinal, um símbolo, ou uma forma. No mesmo sentido em que a doutrina cristã foi preparada e profetizada por religiões e filósofos antes de Cristo, assim também a adoração e veneração cristã o foram Quando o espírito cristão é forte a Igreja não fica receosa da adoração ser estranha, e ampla, ou mesmo grotesca. Quanto mais fraco o espírito cristão, maior a exclusividade na oração. Algumas pessoas comentam: 'é errado usar a arquitetura pagã para a Igreja, e incenso, e fogo, a música, ou dança, ou curvar-se, ou ajoelhar-se, ou sinais e símbolos, pois isso tudo é pagão'." Sim, de fato tudo isso é pagão, mas é Cristão também se o quisermos. A língua latina era pagã, mas agora é também cristã. A língua inglesa era um instrumento do paganismo também, e agora é um instrumento da cristandade. O corpo humano era ele mesmo pagão também, mas o Cristo Eterno, a Santa Sabedoria de Deus, entrou nele e o encheu de um novo espírito, e ele deixou de ser pagão. Nós no Oriente algumas vezes usamos para nossas vestes sacerdotais seda chinesa feita por mãos pagãs na China, ou cálices e colheres e pequenos sinos e correntes feitos por muçulmanos, ou pedras preciosas colhidas e aromas preparados pelos adoradores do fogo ou pedra da África, e nenhum de nós deve ficar receoso de tocar o mais miserável dos corpos humanos ou almas com as mãos puras Dele. A Cristandade não pode ser contaminada se usa para sua adoração as obras de mãos pagãs, mas o povo pagão está por este meio tomando parte na adoração Cristã, fisicamente e inconscientemente, esperando pelo momento quando eles compartilharão espiritualmente e conscientemente também. Toda peça chinesa em nossas vestes é uma profecia da Grande China Cristã. Mas isso é conversa para o parágrafo seguinte. 


A sabedoria inclusiva na Destinação da Igreja

O judaísmo foi destinado apenas ao povo de Israel. A Igreja Cristã foi destinada ao Povo de Israel também, mas não apenas. Ela incluía também os Gregos .

O politeísmo grego do Olímpo foi destinado apenas à  raça helênica. A Igreja Cristã  foi destinada à raça helênica também, mas não apenas a eles. Ela incluía os indianos também.

A sabedoria de Buda foi oferecida aos monges e vegetarianos. A Igreja põe no seu colo os monges e vegetarianos, como também os casados e também o restante do povo.

Pitágoras fundou uma sociedade religiosa de aristocratas intelectuais. A Igreja Cristã desde o início incluiu a elite intelectual e a colocou ao lado do povo ignorante e iletrado.

O profeta da Pérsia, Zoroastro, recrutou soldados do deus da luz entre os melhores homens para lutar contra o deus da escuridão. Sua instituição religiosa foi como um quartel militar. A Igreja Cristã incluiu ao mesmo tempo tanto o melhor quanto o pior, o justo e o pecador, o são e o enfermo. Era um quartel e hospital ao mesmo tempo. Foi uma instituição tanto para a luta espiritual quanto para a cura espiritual.

O sábio chinês, Confúcio, pregou um maravilhoso pragmatismo ético, e o profundo pensador, Lao Tsé, pregou um espiritualismo que abraçava a todos. A sabedoria cristã incluiu ambos, abrindo o Céu para o primeiro e mostrando a dramática importância do mundo físico para o segundo. O Islã - sim, o Islã tinha em algum sentido uma ambição cristã: ganhar o mundo inteiro. A diferença era: o Islã desejava conquistar o mundo; a Igreja, a salvação do mundo. O Islã pretendeu subjugar todos os homens e conduzi-los a Deus como Seus servos: a Igreja pretendeu educar todos os homens, purificá-los e elevá-los, e conduzi-los a Deus como Suas criancinhas.

E todos os outros, os que adoram estrelas, fogo, madeira, água e pedra, e os que adoram animais tiveram uma tocante sensibilidade para perceber a imediata presença na Natureza. A Igreja veio não para extinguir esta sensibilidade mas para explicá-la e para subordiná-la; veio para colocar Deus no lugar dos demônios e a esperança no lugar do medo.

A Igreja veio não para destruir, mas para purificar, para ajudar e assimilar. A designação da Igreja nem foi nacional, nem racial, mas cósmica. Nenhum poder exclusivo a um grupo pode aspirar a um poder mundial. A falha final do Islã a se tornar um poder mundial repousa em seu exclusivismo. Tanto enquanto religião quanto como política. Toda política para uma ação exclusivista está fadada ao fracasso: veja os Alemães tanto quanto os Turcos e o Império Napoleônico. A política da Igreja foi designada pelo seu Divino Fundador: "Quem não está contra nós, é por nós". Bem, não há raça humana na Terra completamente contra Cristo e totalmente despreparada para acolhê-Lo. A sabedoria dos missionários cristãos deve perscrutar em primeiro lugar por quais caminhos a Providência preparou o solo para  a semente Cristã; ver quais os elementos cristãos uma raça, ou uma religião já possui e como pode-se utilizar tais elementos  e consolidá-los junto à Cristandade. Tudo o que possa permitir o florescimento da Cristandade, em vez de mecanicamente empurrá-la para baixo.

Em conclusão, permita-me repetir mais uma vez: a sabedoria da Igreja foi inclusiva. Inclusiva foi a sabedoria de seu Fundador, inclusiva a sabedoria de sua organização e de sua destinação. Exclusividade foi a doença e fraqueza da Igreja. Esta é a razão de porque nós do Oriente no tempo de doença da Igreja olharmos nem para Pedro, nem para João, nem para Paulo mas para a Sabedoria Divina, que tudo cura e tudo ilumina. Pois Santa Sofia em Constantinopla, o templo dedicado em Cristo Eterno, inclui já em si mesmo Pedro, João e Paulo; ademais, é até mesmo sustentado por alguns pilares do templo de Diana em Éfeso, e tem muitas outras coisas, no estilo ou nos materiais, que pertencem ao paganismo antigo. Na verdade, santa Sofia tem coração e aposento mesmo para o Islã. Os maometanos o elogiam como o melhor de seus santuários!

Eu vos falo assim porque estou certo de que não serei mal compreendido. E porque eu sei que vós, britânicos, são uma raça de espírito mundial, que eu ouso fazer este apelo a vós.

Olhai para a Santa Sabedoria! Olhai além de Pedro, Paulo e João - por meio deles e também além deles! Toda Igreja tem seu profeta, seu apóstolo, seu anjo. Olhai agora  para além de tudo isso, para o topo máximo da pirâmide, onde todas as linhas se encontram!

Ou toda a cristandade é uma só, ou não há cristandade. Ou a Igreja é universal, ou não há Igreja.

Era uma vez doze homens que viviam tão diferentes quanto doze homens podem ser. E a Santa Sabedoria os unificou em um corpo espiritual. Tal foi a primeira Igreja dos Doze, e tal deverá ser a última Igreja dos milhares de milhões: diferença em todas as suas partes, mas cimentada pela Santa Sabedoria em uma gloriosa edificação. Cristo, a Santa Sabedoria de Deus, incluiu todos nós, por que devemos nos excluir uns aos outros? Ele foi enviado pela salvação da China, do Japão e da Índia tanto quanto para Judeus e Gregos. Por favor, deixe-nos não mais querelar acerca da "circuncisão" enquanto milhares de milhões de seres humanos estão ainda esperando ouvir pela primeira vez o nome de Jesus Cristo - sim, pela primeira vez após dois mil anos! Deixe o tempo Presente ser para nós o Novo Pentecoste!Eu vos falo, britânicos: não fiqueis olhando parado ao redor esperando: a iniciativa é vossa. Todas as pessoas da Terra estão olhando para Vós e vos ouvindo. Não sejais tímidos para começar!

Para começar o quê? Para iniciar uma renovação da sabedoria primitiva da Igreja, isto é, para confessar e declarar:
A Cristandade em sua integridade é única e indivisível
Que a Cristandade não é uma pedra preciosa preservada numa caixa chamada Igreja da Inglaterra, ou Igreja do Oriente, ou Igreja de Roma, mas que é o bem comum de toda a humanidade, destinada a todos os continentes e todas as raças;
Que não há constituinte da presente civilização européia, mas a Religião Cristã, que pode deter a guerra brutal entre os homens e de uma forma ou outra garantir uma paz divina  em proveito de toda a humanidade.
Todos nós, nações grandes ou pequenas, estão agora olhando para vós com respeito, não apenas pela vitória sobre o anacrônico renascimento do paganismo na Europa Central, mas também pela reformulação de um novo ideal, que poupará a todos os homens.
Grande é nossa expectativa, de fato, mas ela é justificada pelos vossos dons, que vos foi dado pela Providência. Assim, deixai vosso coração ser maior que Vosso Império e Vossa Igreja Nacional, e o respeito da humanidade com relação a Vós será vencido pelo amor. Seguramente não pode haver Império maior do que o vosso, humanamente  falando. O único império maior do que o Vosso será o Império de Cristo. E se vós estais à espera de algo maior do que vossa posse presente , Vós de fato estais à espera de um Império universal, o Império pan-humano de Cristo. Se não for isto, caireis na frustração ou por uma estagnação ou por algo impossível. Ambos os caminhos seriam tolices: a natureza não tolera a estagnação e pune os experimentos com o impossível.
Mas quem sou eu para vos ensinar qualquer coisa? "Um caniço (do deserto) agitado pelo vento?" Não eu, mas o desespero de nosso mundo presente vos fala. Eu sou apenas um clamor entre tantos outros prantos sufocados de Leste a Oeste, Norte e Sul, que vos é dirigido: erguei alto os vossos corações e ouvi! Uma coisa apenas é certa, que esta coisa maior não virá nem do Ministério das Relações Exteriores nem do Ministério da Guerra, mas da Igreja Cristã Viva. Sim, ela ainda vive, apesar de parecer morta. Ela está apenas adormecida. Mas Cristo se porá ao seu lado agora chamando: "Levanta-te filha! Talitha Cumi!".

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Mística e Gnose

O texto que postarei agora é uma tradução minha do texto Mística e Gnose, capítulo do livro de Marie-Madeleine Davy Nicolas Berdiaev ou la révolution de l'Esprit, Paris, Albin Michel, 1999. O capítulo está entre as páginas 123 a 140.
O texto é interessante para introduzir os leitores na obra de Berdiaev, além, é claro, de discutir justamente as categorias da mística e da gnose, para além do sentido pejorativo que o termo mística assume no Ocidente e para além do dualismo gnóstico e maniqueísta, estranho à obra de Berdiaev. Existe um espiritualismo universal? Existe um anseio do espírito que se manifesta em qualquer lugar do mundo? Não sabemos. A tradução que disporei agora, espero, possa nos ajudar a compreender ou a problematizar isso melhor.

Mística e Gnose 

"A mística é uma vitória sobre o estado de criatura" (Berdiaev, Esprit et Réalité).
"Eu acredito na presença de uma mística universal, um espiritualismo universal" (Berdiaev, Autobiografia).

O teandrismo exclui toda separação entre o visível e o invisível. A distinção se mantém isenta de confusão, mas a união entre o divino e o humano é indefectível. Nicolas Berdiaev sublinhou o caráter profundamente místico do pensamento ortodoxo aberto à gnose.

O termo "mística" pode nos deter. Ele sempre comporta, no Ocidente, um sentido pejorativo. No pensamento ortodoxo a vida mística é despojada de todo conteúdo emocional. Não existe qualquer dramatização da humanidade sofredora do Cristo, qualquer devoção sensível, qualquer imaginário sentimental. A vida mística se apresenta como uma orientação para o mistério: este de Deus e do homem em que o espírito tornou-se vivo.

A mística é uma via espiritual dirigida para a contemplação. Ela é tanto doutrina quanto experiência. Especulativa, ele comporta uma consciência "inspirada e intuitiva".

Na frente da mística autêntica, abundam falsas místicas. No Ocidente o termo "mística" é por vezes utilizado em um sentido errôneo. Fala-se assim de mística comunista, da mística comunitária, etc. É um emprego falacioso posto que a mística exige uma experiência espiritual pessoal para além da coletividade. É assim que a mística se diferencia da religião socializada e por consequência objetivada.

A mística considerada por Nicolas Berdiaev se situa no interior do cristianismo, e ela se insere no interior mesmo do drama cristão.

Este drama do cristianismo provém de um conflito entre a vida espiritual que não é "deste mundo" (pois o espírito é precisamente "o que não é deste mundo"), e a necessidade para o espírito de descer ao mundo natural sem se instalar lá.
"O espírito é o inverso do mundo, ele se destaca, desce e se simboliza em si" (Esprit et Liberté, Paris, Je sers, 1933, pag. 55)
A antinomia trágica vivida pelo cristianismo diz respeito a todo homem onde nasceu o espírito. Ele está no mundo sem ser escravo do mundo, compartilha o destino dos homens, vivendo no mundo sem estar a ele preso. É pelo segundo nascimento, quer dizer pelo nascimento espiritual, que o homem toma consciência da tragédia em que ele é obrigado a viver.

Nicolas Berdiaev evoca os mistérios da vida de Cristo que devem se realizar no segredo profundo do ser:
"O Cristo deve se revelar na vida interior do espírito, antes de se revelar no mundo exterior, natural e histórico. Sem a aceitação interior e espiritual de Cristo, as verdades descritas no Evangelho permanecem fatos ininteligíveis do mundo empírico exterior" (Id., pag. 57).
O pensamento cristão de Nicolas Berdiaev reconhece, por sua vez, a "carne" do cristianismo e seu espírito; não se trata então de um cristianismo abstrato, mas de um cristianismo vivo, cuja carne está informada pelo espírito. A mística pertence à realidade do cristianismo, à sua vida profunda, inegável em sua essência. O mistério da revelação cristã está além do sectarismo, do racionalismo e até mesmo da metafísica:
"Os místicos (...) exprimem o mistério da vida teândrica (...). A experiência dos santos nos dá um conhecimento mais profundo da personalidade humana, que toda metafísica e teologia reunidas" (Id., pag. 61)

Mais ainda, apenas a vida espiritual confere imortalidade:
"O homem natural, a mônada psico-corporal não goza de imortalidade, como uma qualidade que lhe é inerente. Apenas a vida espiritual merece a imortalidade, apenas o espírito possui a qualidade da vida eterna" (Id., p. 63).
Assim a imortalidade não pode ser concebida fora do divino, do que dá vida ao elemento divino no homem:
"Toda mística ensina que a profundidade do homem é mais que humana, que ela se esconde em um lugar misterioso com Deus e com o mundo. É em si mesmo que está o eu autêntico; é dentro e não fora que se quebra as barreiras por um trabalho totalmente interior." (Le Sens de la création, Bruges-Paris, 1955, pag. 376). 
O homem sempre é visto sob dois aspectos: este do homem exterior e este do homem interior. O primeiro se oferece ao olhar distraído. Para alguns ser a forma externa basta, por ela se engendra o apego, a paixão, o ciúme. A outra face não se revela a não ser àqueles que, para além da forma, consideram que o essencial pertence ao mistério e que é importante ter as disposições necessárias para abordá-lo: essas do amor e do recolhimento. A maioria das pessoas procuram em outro a ocasião para se divertir; outros, amorosos de infinito abordam no silêncio um além do temporal; conhecer o mistério constitui o limiar da eternidade.

O homem que recusa o mistério permanece na esfera da idolatria com tudo isso que ela comporta de egoísmo, de divisão e de finitude. Do contrário, o homem orientado para a realidade misteriosa encontra, depois de purificações mais ou menos dolorosas, a harmonia e a unidade.

O mistério que o homem contém está ligado à sua interioridade. Microcosmo e microtéos, o homem possui um lugar secreto com o mundo e com Deus, e é por sua interioridade que ele é espiritual e apenas a mística é capaz de apreender o mistério de sua relação com o mundo e com Deus:
"A mística anima e inspira a fonte e a raiz da vida religiosa. Ela é o fundamento essencial de todo conhecimento religioso. As religiões traduzem em consciência e em ser, isto que, na mística, é vivido e revelado no imediato (...). Os dogmas degeneram e morrem logo que perdem sua fonte mística". (Id., p. 377).

A mística que se desvia de um plano espiritual cessa, portanto, de responder à sua vocação.

A mística "anima (...) a vida religiosa" e no entanto as religiões aparecem sempre hostis com respeito aos místicos. Nicolas Berdiaev frequentemente volta sobre esta contradição que deve ser considerada a partir de diferentes níveis. Basta observar a história do pensamento religioso para se convencer disso. Como os místicos estão vivos, sua experiência parece inquietante; eles rasgam os véus e a opacidade é tranquilizada; eles possuem uma liberdade soberana e se desviam assim do rebanho. A necessidade de se adaptar à humanidade exige certa mediocridade, o primado é sempre dado à exterioridade por causa da facilidade.
"É somente assim que se torna compreensível a dualidade trágica do cristianismo no curso da história. (...) Pode-se dizer do cristianismo, de um lado, que é a religião mística por excelência e que é a religião menos mística que já existiu". (Id., p. 378).

Nicolas Berdiaev nota como certos sistemas teológicos são tentados a afirmar uma oposição entre a natureza e a graça. Às vezes o espírito aparece privado de propriedades independentes, ligado inteiramente à alma, fazendo parte da natureza; outras vezes o espírito é somente atribuído ao ser divino, ele se apresenta como a graça concedida pelo Espírito Santo. Mais frequentemente o espírito se encontra rejeitado da profundeza do homem. Considerar o homem como unicamente psico-corporal é o mesmo - dirá Nicolas Berdiaev - que significar o dualismo do Criador e da criação, do estado de graça e do estado de natureza. Uma tal atitude rejeita a realidade da imagem divina do homem.

"Tem-se por vezes a impressão que a teologia  oficial e os preceitos da Igreja se recusam em considerar o homem como um ser espiritual, guardando-os contra as tentações da espiritualidade. O cristianismo da alma é reconhecido como mais verdadeiro e mais ortodoxo do que o cristianismo do espírito. Ter consciência de si como ser espiritual provoca a acusação de orgulho; reconhecer-se indigno de possuir espírito e vida espiritual é qualificado como humildade." (Esprit et Liberté, pg. 52)

 A espiritualidade parece assim reservada aos santos e aos ascetas; toda vida espiritual que não se inscreva no interior da Igreja é considerada suspeita. Aqui estamos diante de um problema muito perturbador - dirá Nicolas Berdiaev. A Igreja é indulgente para com as fraquezas da alma, mas ela se mostra implacável quando se trata de uma espiritualidade vivida fora de sua autoridade. É assim que ela justifica sua desconfiança, mesmo sua condenação, com relação não somente aos reformadores espirituais, mas aos filósofos, aos poetas e também aos místicos cristãos no que diz respeito à sua vida espiritual.
"Assim se afirma um materialismo e um positivismo cristão original, o cristianismo foi proclamado a religião da alma e não do espírito". (Esprit et Liberté, pag. 53).
A este propósito, Nicolas Berdiaev falará acerca de um exoterismo cristão.

O esoterismo não recusa o exoterismo, sua função não é eliminá-lo, mas aprofundá-lo, esclarecer o exterior pelo interior.
"A carne do cristianismo exotérico não é menos real que o espírito deste cristianismo, a 'carne' e o 'espírito' desta consciência cristã refletem simbolicamente e na mesma medida, as realidades autênticas da vida espiritual, do mistério divino e da vida". (Id., pag. 58).
Raymond Abellio - numa fórmula feliz - considera que a função do esoterismo reside na transfiguração do homem. À questão: "O que é o esoterismo?", ele responde: "É o estudo e a experimentação das trevas interiores". ("L'Esprit moderne et la tradition", dans Paul  SERANT, Au seuil de l'esóterisme, Paris, 1955, p. 17).

Nicolas Berdiaev insiste sempre sobre o fato de que o cristianismo reconhece insuficientemente o papel do Espírito Santo. O Espírito está ainda "encarcerado" na alma, ignora-se que toda a vida espiritual está enraizada em Deus e no Espírito Santo. Certamente o temor da Igreja parece por vezes motivado em razão das  manifestações de pseudo espiritualidade, contudo sua prudência - por vezes totalmente humana - aparece estranhamente negativa aos olhos do homem e da realidade divina no homem. Toda experiência espiritual, pelo fato de ser pessoal, arrisca-se a ser suspeita. A heresia paira sobre o místico sempre acusado  de um eventual "desviacionismo".

Eu não posso tomar consciência da vida espiritual a não ser por minha própria experiência. Se eu a nego ou se eu afirmo que ela é o produto de uma imaginação ou de uma autossugestão, é porque eu não a experimentei. A vida espiritual não se pode descobrir pela reflexão. tentar circunscrevê-la é também deixá-la escapar. Todo pensamento discursivo e todo dado exterior não o podem alcançar. É porque é impossível provar a vida espiritual a um homem que se recusasse a autenticidade de sua existência. Nenhuma restrição pode aparecer nesta ordem. Da mesma maneira, é impossível provar a um homem que não tem a experiência do divino a realidade de Deus.
"A vida espiritual é uma realidade extra-objetiva, ela não está ligada a qualquer determinação de tempo, de espaço ou de matéria, é uma realidade ideal em comparação à esta do mundo objetivo, é a realidade da Vida Inicial" (Id., pag. 36).
Na vida espiritual não existe nem objeto, nem sujeito refletindo o objeto, pois tudo lhe está identificado. Que a consciência do homem médio se recuse a experiência espiritual, sua recusa ainda que desprovida de qualquer significado não deve nos surpreender. O homem situado unicamente no mundo natural não ultrapassa os limites deste mundo, ele se exprime através do que ele conhece. Ora, se o que ele conhece não excede as fronteiras do psiquismo ou do psicológico, ele não vai para além do mundo da alma, ele permanece subordinado às leis do mundo natural cuja vida verdadeira está ausente, pois tudo para ele está situado no tempo, no espaço e na matéria; ele ignora então a profundidade misteriosa onde o espírito de revela. Neste nível a alma e o próprio Deus são realidades análogas a estas do mundo material; Deus se torna então uma substância inerte. Deste fato a alma, o mundo e Deus estão divididos, um abismo inultrapassável os separa. O mundo corporal e psíquico é um mundo onde tudo está em ruptura. Na medida onde eu sinto dolorosamente meu isolamento, onde a angústia nascida de meu divórcio me faz chorar, eu posso reconhecer meu pertencimento ao mundo natural. Neste caso, não existe qualquer experiência espiritual. Tal experiência "só é possível supondo-se que o homem é um microcosmo, que nele se revela todo o universo, e que não existem limites transcendentes isolando a alma de Deus do mundo". Se aceitamos esta realidade, não existe qualquer solidão interior, o mundo divino é um, ele abraça a totalidade num movimento que é a própria vida.
"A vida espiritual se cumpre fora do tempo, do espaço, da matéria, embora esteja ligada a eles como a uma imagem simbólica da divisão interior do espírito". (Esprit et Liberté, pag. 41)
Pode-se crer que tal vida espiritual se manifeste em uma ordem abstrata. Ora, nada é mais concreto que a vida espiritual autêntica; uma vida espiritual abstrata seria uma forma imperfeita. O desapego, o ascetismo, a purificação se apresentam como caminhos necessários mas não indicam o ponto em que as metas precisam convergir. A vida espiritual considera a realidade do mundo natural, psíquico, psicológico, tais realidades como sua própria "simbolização", como reflexo de sua interioridade que ela não despreza. Assim a "carne é a encarnação e o símbolo do espírito", deste fato o espírito não desconsidera a carne, ele não se opõe a ela, ele a assume livremente e a transfigura, pois o espírito não é apenas liberdade, é amor e por conseguinte união; é o ponto entre Deus e o Mundo. Graças a Este amor ele não se afasta do natural e do psiquismo, sendo sua função os espiritualizar.

O amor para com a natureza, quer se trate de minerais, vegetais ou animais, cria uma comunhão e se afirma como uma experiência espiritual. A experiência do amor, a contemplação da beleza operam um retorno do homem para o cosmos, da mesma maneira que um cosmos transfigurado opera um retorno em direção ao homem.

No interior do cristianismo uma dupla atitude é sempre apresentada particularmente ao olhar da mística. A este propósito Nicolas Berdiaev distingue - e ele não é o primeiro a estabelecer tal diferenciação - entre a Igreja de Pedro e a Igreja de João:
"A Igreja em sua ação histórica universal e sua adaptação ao nível médio da humanidade foi em grande parte a Igreja de Pedro, de onde se deriva a supremacia do clero.  A tradição judaico-cristã remonta a Pedro. A igreja católica se reconhece abertamente como a Igreja de Pedro, mas a Igreja Ortodoxa recebe também sua preeminência. Pedro foi o apóstolo do nível médio da humanidade. (...) Os santos e os místicos foram os vivos depositários da tradição joanina". (Le Sens de la création, Op. Cit., pag. 379).

 Nicolas Berdiaev insiste sobre esta distinção que, de fato, se assevera de extrema gravidade. A história religiosa apresenta épocas nas quais "Pedro" triunfa, e em outros períodos no quais "João" anima numerosos místicos. É neste contexto de grande interesse estudar a história religiosa através dos místicos e inseri-los em um contexto no qual pode-se facilmente perceber a prioridade dada a Pedro ou a João. bem entendido, estes diferentes aspectos se imbricam, mas por vezes um domina às expensas do outro. Estas duas características de uma mesma religião correspondem à alma e ao espírito. De um lado o psíquico - e de outro o espiritual. O ato criador do homem de dentro do espírito depende do pensamento joanino.

As consequências deste contraste - pode-se dizer deste combate - entre o cristianismo de Pedro e este de João são decisivas. Falando de alienação religiosa, Nicolas Berdiaev volta frequentemente sobre este tema que pode se concretizar assim: socialização do espiritual e, por oposição experiência espiritual pessoal. Encontra-se aqui dois pólos privados de relação, não somente por suas diferenças, mas não relacionados um ao outro. A religião do amor deve se desenvolver no mundo: "ela deve ser a religião da liberdade ilimitada do espírito".
"A Igreja do amor é a igreja de João. A Igreja Eterna, mística, abrigando em si mesma a plenitude da verdade sobre Cristo e sobre o homem". (Id., pag. 424).
A vida espiritual autêntica, é tensão para o futuro incluindo a transfiguração, isto é a aparição de um novo céu e de uma nova terra, leva ao profetismo e à gnose. O espiritual socializado é espiritual apenas no nome, sua submissão à "terra", à ética da lei resulta em uma desespiritualização. Na medida em que o espiritual é socializado , ele é constantemente desprezado; as formas que tentam manifestá-la perecem durante os incidentes da história. Daí o desânimo dos cristãos de hoje diante da mudança de valores. Ao contrário, a experiência espiritual não pode jamais ser posta em questão  pois ela não está no tempo; sempre nova em sua apreensão, ela não pode envelhecer ou estar inadaptada a um tempo determinado. Em outros termos, uma forma religiosa dessacralizada pode parecer antiquada, por outro lado, uma experiência espiritual conectada ao sagrado escapa ao desgaste, porque ela cai na eternidade. A forma religiosa, laicizada pelo fato de sua dessacralização, é secularizada, a experiência espiritual não é jamais profanada pela laicização.

A socialização do espiritual se apresenta sob a forma de uma tentação permanente na história do cristianismo. Desde o século segundo a experiência espiritual pessoal é amargamente combatida. De tempos em tempos as vozes dos místicos aparecem, tentando-se reduzi-las. Entretanto, sempre existirá homens inspirados, fiéis à mensagem de Cristo, aceitando no espírito a beatitude do sarcasmo, das condenações e por vezes mesmo até da morte.

Nicolas Berdiaev atribui grande importância à tentação de Jesus no deserto relatada por Mateus 4:1 e Lucas 8:29. Esta tentação, Jesus repeliu por três vezes, mas - dirá nosso autor - "os cristãos sucumbiram na história a esta tentação".

Esta tentação recusada pelo Cristo é aceita pela maioria dos cristãos simboliza a socialização do espiritual.

Este problema essencial na obra de Berdiaev, e alhures vital para o cristianismo e os cristãos, consiste - veremos - na experiência espiritual pessoal considerada em sua oposição ao olhar da socialização do espiritual que é a mais grave das alienações religiosas. A mais grave, pois a socialização do espiritual desloca Deus e o homem. Com efeito, a socialização do espiritual é por vezes deicida e homicida: pois ela faz do homem um robô e Deus não mais do que a criação deste robô.

Em seu estudo publicado no Eranos Jahrbuch (1962) sob o título: "O combate espiritual do shî'ismo", Henry Corbin pôs tal questão de modo magistral. Ele cita alhures Berdiaev e se inspira nos principais temas considerados no l'Essai de Métaohysique eschatologique. Henry Corbin mostra com pertinência as consequências da socialização da experiência religiosa. Ele suspeita de "uma conexão secreta e fatal entre o acontecimento e as exigências da fides historica e a preparação de uma era que será esta do materialismo histórico". (p. 78)

Consideremos a gravidade desta proposta concernente aos efeitos da socialização religiosa. Toda religião verdadeira deveria ser mística, na medida em que ela se opõe à mística, ela se trai. A mística - como alhures o profeta - não pode senão se insurgir contra a socialização do espiritual.

É em tal contexto que os termos do "profetismo" e da "gnose" podem ser empregados a propósito do pensamento de Nicolas Berdiaev: aqui uma atenção particular é exigida do leitor a fim de evitar o risco de distorção.

O conceito de profecia, como lhe precisa André Neher em sua obra A Essência do profetismo (Paris, PUF, 1972, pag. 1), deve ser dissociada da ideia de antecipação. No sentido corrente do termo, o profeta prediz. Ora, a clarividência do profeta não está ligada necessariamente ao futuro, ela possui seu próprio valor. O que o profeta revela, "não é o futuro, é o absoluto. O profeta responde à nostalgia de uma consciência, mas não a consciência do amanhã: e sim esta de Deus".

Esta realidade do profetismo , nós a encontramos, por exemplo, na grande freira visionária do século XII, santa Hildegarde. Na primeira visão, Hildegarde entende a voz de Deus, dizendo: "Abre a cortina dos mistérios". Trata-se aqui de uma atividade de ordem carismática, no interior do dom da inteligência. Neste sentido, Nicolas Berdiaev é um profeta. Ele alude voluntariamente a um estado de êxtase quando escreve. Este estado de êxtase é iluminação, consciência, desvelamento. Neste último ponto, profetismo e gnose se conjugam.

Quando um filósofo ou um teólogo ocidental tratam Berdiaev de "gnóstico", trata-se frequentemente mais de um julgamento pejorativo ou ao menos incluindo algumas reservas com relação a ele e suspeitando de sua ortodoxia. Esta mesma reprovação foi formulada por espíritos maliciosos com respeito a Simone Weil. De fato, o problema da gnose é um dos mais difíceis de apreender, e a ignorância é frequentemente a base para uma preocupação abusiva.

Se Nicolas Berdiaev pode ser dito - de uma certa maneira - um gnóstico, seu pensamento é todavia privado de toda a relação com a gnose heterodoxa; o dualismo maniqueísta lhe é totalmente estranho. Não se encontra em seu pensamento qualquer evidência panteísta. Não existe nele oposição - enquanto dualidade - entre luz e trevas, o conhecimento e a ignorância, o espírito e a matéria. Tivemos muitas vezes a ocasião de examinar esta questão. Para Berdiaev, "a carne do mundo é um símbolo do mundo... Nós vivemos em um mundo derivado, segundo, refletido". Tudo é orientado, o homem e o mundo, para a transfiguração. A alma não está aprisionada na matéria, nenhuma "queda" da luz ocorreu, não há iluminação no pensamento de Berdiaev. Sua gnose se parece com a de Jacob Boehme; ela leva em conta também a Cabala. Ela consiste exatamente na consciência do sentido oculto, isto é do esoterismo da verdade religiosa. É sempre a passagem da letra ao espírito, da ética da lei à ética criadora.

Segundo Berdiaev a gnose é necessária, apenas ela assegura a perenidade do verdadeiro cristianismo. O gnóstico possui uma experiência espiritual imediata, pode-se dizer "homem espiritual", "homem interior". A diferenciação entre os "pneumáticos" e os "psíquicos" proposta pela gnose é sempre válida. Ela não supõe uma dualidade no seio do cristianismo, ela significa somente dois planos: de um lado as observações exteriores, e de outro penetrando com o amor no mistério da revelação. Este conhecimento não é extrínseco ao Antigo e ao Novo Testamento. O reencontramos em São Marcos e em São João. Para se convencer, basta recorrer aos seus textos: "À nós, discípulos escolhidos, é dado conhecer os mistérios do Reino de Deus. Mas à multidão, as coisas são ditas em parábolas, a fim de que eles vendo não entendam e ouvindo não compreendam". (Marcos 4: 10-12). São João faz alusão à luz divina que as trevas não podem abarcar (1, 5); dirigindo-se à Samaritana, ele evoca à consciência (4,23).

São Paulo menciona o conhecimento próprio ao "pneumático", o pneuma divino iluminando o pneuma humano. Jean Baruzi - em seu estudo Création religieuse et pensée contemplative que já citamos - falou desta gnose paulina como de uma "nova plástica do ser" (pag. 88). A metamorfose pela renovação do nous (que tem aqui o sentido de pneuma) (cf. Rom., 12, 2) designa após Baruzi a passagem do homem carnal ao homem psíquico e ao homem espiritual. "O homem que organiza o estado pneumatikos desenvolve em si isto que será um dia o 'corpo espiritual' (...) Paulo e outros como ele parecem ter chegado a uma espécie de nova criação de seu ser."

Tal é a gnose de Nicolas Berdiaev culminando na visão teofânica. Ela coincide com o despertar do espírito no homem. O gnosticismo é então uma atitude existencial. Originalmente, os espirituais não são diferentes dos psíquicos, pois todo homem é virtualmente espiritual. Todavia, há poucos gnósticos, já que apenas um pequeno número é capaz de receber uma revelação. Por prudência, para evitar os erros, o cristianismo oficial sempre tentou neutralizar a pesquisa da consciência.

O gnóstico - cujo corpo espiritual se forma graças à luz de sua consciência que modifica seu ser - é orientado para uma perspectiva escatológica. Este termo em seu sentido etimológico se aplica às coisas finais. Refere-se a um além cuja originalidade não é de se situar fora do tempo e de pertencer a um mundo superior, mas de se relacionar com o mundo em sua transformação. Nesta perspectiva, a salvação designa a passagem do mundo da carne a este do espírito. Pneumatismo e escatologia, de fonte paulina e joanina, são a base do pensamento religioso ortodoxo oriental. Berdiaev volta - como já vimos - frequentemente a este tema. Quer se trate do homem ou do cosmos, existe uma espera ansiosa da criação. Desta impaciência inscrita no mais profundo do ser, o gnóstico possui uma profunda intuição. Místicos e gnósticos sabem que o filho de Deus tem por missão revelar ao mundo a vigilância desta espera que pode ser comparada a um estado em que se assiste desde a véspera os signos da realização do Reino de Deus. É um movimento soberanamente ativo pois esta espera plenificada fornece a glória do homem e do cosmos rendido ao seu verdadeiro destino.

Um tal movimento comporta o fim do mundo, de que nós já falamos, e o fim do homem que nós tentaremos brevemente considerar aqui. Trata-se da morte que Berdiaev dirá ser "o paradoxo mais prodigioso do mundo".

Sobre o plano natural, a morte se apresenta como uma objetivação e uma temporalização do ser, ela designa de fato o ponto culminante da existência pois ela é signo de nossa profundeza, de nossa conexão com a eternidade que provoca continuamente em nós uma agonia aparentando-se por vezes a uma nostalgia. A morte foi santificada pelo Cristo e por Ele vencida: "Toda existência deste mundo deve passar pela morte, pela crucificação, sem a qual ela não poderia esperar a ressurreição, a eternidade". (Destination de l'homme, pag. 327).

As páginas de Nicolas Berdiaev sobre a morte estão entre as mais belas; a angústia excessiva se apresenta como um poema em louvor à eternidade. Certamente a eternidade se delineia no tempo, mas o homem se arrisca sempre a ser tomado pela mundanidade, a dispersão, e neste sentido a morte é unificante. Pela morte o homem recebe uma revelação suprema e comunica ao mistério o mais profundo da vida. Na medida em que o homem escapa à quotidianidade, o terror da morte se desvai. A morte pode conservar seu caráter formidável, ela se apresenta com uma serenidade muito grande, na doença ou no medo do acidente; na guerra como no martírio da fé ou de uma ideia.
"Se a vida é estreitamente ligada à morte, ela não é em sua fraqueza, como se poderia crer num primeiro momento, mas em sua força, em sua intensidade, em sua superabundância. (...) É também isto que se revela no amor. Com efeito a paixão, que é a manifestação mais intensa da vida, contém sempre os gérmens da morte; aquele que acolher o amor em sua força superabundante e trágica, é obrigado a acolhê-la também. Aquele que é vital escapa ao destino do amor". (De destination de l'homme, Paris, Je sers, 1935p. 329)

 Berdiaev se dirige raramente a um interlocutor, ele o faz aqui com uma simplicidade cuja beleza é impressionante:

"Ajusta-te a olhar os vivos com o olhar dos mortos, e a olhar os mortos com o olhar dos vivos. Dito de outro modo, lembra-te sempre da morte como o mistério da vida e, tanto na vida como na morte, afirme incansavelmente a vida eterna." (Id., pag. 329).

Por último, o fim ao qual a ética deve tender, se dirige a todos os homens, tanto vivos quanto mortos. Trata-se da "libertação criadora de todos estes que sofrem, de todos estes que subsistem aos tormentos, quer eles sejam temporais ou eternos, libertação sem a qual o Reino de Deus não se instauraria". Isto que significa, para Nicolas Berdiaev uma vitória sobre o inferno, enquanto "inferno eterno". "Os 'bons' não conduzem os "maus" à perdição e nem procuram seu próprio triunfo, mas descem eles mesmos ao lado de Jesus para os libertar". (Id., p. 375). Esta libertação não se faz pela violência, "apenas o Deus-Homem, que une misteriosamente em si a Graça e a Liberdade, conhece o mistério desta libertação". (Id., 376). Nós estamos aqui distantes da doutrina de Tomás de Aquino falando dos "bons" se alegrando com a manifestação da justiça divina diante do sofrimento dos "maus". Esta doutrina foi também a de numerosos cristãos. Nicolas Berdiaev faz apelo, a propósito do mistério da libertação, à docta ignorantia, pois os "maus" não podem ser "trazidos ao bem, no sentido que nós damos aqui a este termo. Eles só podem ser conduzidos ao Bem Supremo, quer dizer ao Reino situado para além do Bem e do Mal". (Id., pag. 376)

Inferno e paraíso são vencidos no interior da experiência humana, um e outro são símbolos da experiência espiritual. "O inferno sendo (...) uma negação da eternidade, uma impossibilidade de ascensão e comunicação. Não pode existir uma eternidade infernal, só pode existir uma eternidade divina". (Id., pag. 346).

A experiência do inferno, enquanto experiência de rejeição ao mal, conduz ao paraíso. "Nós temos uma antecipação do paraíso no êxtase, na qual nosso tempo se rompe, nossa distinção entre bem e mal se revoga, onde é dado ao homem conhecer uma libertação definitiva e onde todo peso desaparece para ele". (Id., pag. 371).

Místicos e gnósticos participam da transfiguração do mundo, preparando o acontecimento do Reino de Deus, no qual eles penetram já em instantes fugidios. Sua missão - alhures a vocação de todo cristão - é despertar o espírito para esta mesma e colaborar com a obra do Espírito Santo. Esta libertação é uma Sabedoria.

Lembrem-nos que a palavra "Espírito" é feminino nas línguas semíticas. Na escola judaica de Alexandria, a Mãe divina é assimilada à Sabedoria, à Sofia, quer dizer à esfera mais exterior do mundo.

Aqui ainda, Berdiaev se inspira em Boehme para quem a Sofia é simbolizada pela feminilidade eterna, a virgindade eterna. A feminilidade apresenta um duplo aspecto celeste e terrestre. O homem inicial é considerado como uma criatura misturada, é um andrógino. Berdiaev expõe o pensamento de Soloviev sobre a Sofia em que tudo é considerado insuficiente. Para ele "A sapiência é (...) a beleza do criado".
"A sapiência do homem é sua pureza, sua integridade, sua castidade e sua virgindade; e pureza, integridade, castidade e virgindade permanecem na criação inteira, enquanto possibilidade de sua transfiguração. A Virgem - Sofia - é assunta ao céu, mas sua imagem se reflete sobre a terra e a atrai para ela". (Étude sur Boehme: Mysterium Magnum, t. I, pag. 42)

A consciência gnóstica no sentido em que nós o precisamos, contempla sobre a terra os reflexos da Sofia. E os medita com tanta agudeza que seu olhar lúcido é intuitivo: ela decifra os vestígios que recobrem os traços divinos.

 Em Les Révélations de la Mort: Dostoievski, Tolstoi, Léon Chestov fala dos homens que possuem "seu próprio saber, solitário, injustificado, injustificável". Aqueles que foram visitados pelo Anjo da Morte que é inteiramente coberto nos olhos. Quando este "Anjo da Morte percebe que chegou muito cedo, que o termo do homem ainda não expirou, então ele não leva sua alma, e não se mostra a ela; mas ele deixa ao homem um dos numerosos pares de olhos onde seu corpo está coberto. Então o homem além de ver mais do que os outros homens e ele vê mesmo com seus olhos naturais coisas novas e estranhas". ( Les Révélations de la Mort: Dostoievski, Tolstoi, Paris, 1925, p. 6)

Parece que Nicolas Berdiaev recebeu a visita do Anjo da Morte. A gente poderia se perguntar: em qual instante ele foi seu anfitrião e lhe deixou um par de olhos misteriosos? Sem dúvida durante um de seus êxtases criadores, rápidos mais fulgurantes, que são a abolição do tempo histórico, penetração na eternidade. Desta eternidade que ele tinha nostalgia e que ele nos faz amar.

Aqui ainda temos de nos exercitar no paradoxo, pois o Anjo da morte é o Anjo da Vida.





sábado, 6 de outubro de 2012

Sobre o exemplo de Mahatma Gandhi


Resolvi traduzir esse texto porque ele é de um pensador ortodoxo sérvio que tenho grande curiosidade de conhecer, Nikolaj Velimirović, sobre um dos grandes santos da humanidade, o qual amo muito, e que me influencia moral e espiritualmente de maneira marcante, Mahatma Gandhi.
O texto o encontrei em inglês, na tradução de Serafim Baltic. Ele faz parte das Missionary Letters of Saint Nikolai Velimirovich. 
Encontrei esse texto no site http://solzemli.wordpress.com/2010/07/17/saint-nicholas-velimirovic-on-the-example-of-mahatma-gandhi/. Foi exatamente este que eu traduzi. Quando eu aprender sérvio, língua que falo muito pouco e que praticamente não leio nada, poderei traduzir esse grande pensador no original. Se isso vai acontecer algum dia, não sei. Assim que me chegar os "Short Works of Nokolaj Velimirovic" pretendo expor o pensamento deste santo da Igreja Ortodoxa Sérvia e apresentá-lo a vocês. 


Sobre o exemplo de Mahatma Gandhi
Santo Nikolaj Velimirovic
(a seguinte carta foi escrita por St. Nikolaj Velimirovic para um nobre britânico chamado "Charles B")


Qual é o significado da pessoa Gandhi, o indiano?

Como um homem de fé você está atormentado pelo seguinte pensamento: o que fará a Providência Divina com Gandhi? E qual é o significado da aparição deste estranho homem entre os chefes de Estado e os políticos de nosso tempo?

Um aviso de Deus. Este é seguramente o recado do líder da grande nação indiana.  Por tal pessoa a Providência está mostrando aos políticos e chefes de Estado e mesmo aos cristãos, que há outros métodos para a política que não sejam astúcia, estrategismo e violência. O método de Gandhi é muito simples e óbvio: ele não requer qualquer coisa a não ser o homem que grita e o Deus que o escuta. Contra armamentos e munição Gandhi oferece o jejum; contra a astúcia, estrategismo e violência - a oração; contra a desavença política, o silêncio. Quão insignificante e patético parece aos olhos modernos, certo?

Nos modernos manuais de política, estes três métodos não são sequer mencionados nas notas de rodapé. Jejum, oração e silêncio! Dificilmente um chefe de Estado na América ou Europa não veria ironicamente estes três segredos dos chefes de Estado indianos, como três galhos secos apontados no campo de batalha contra uma pilha de aço, fogo, chumbo e veneno. No entanto, Gandhi tem sucesso com essas três "magias"; ele tem sucesso para a surpresa do mundo todo. E querendo ou não, os legisladores políticos na Inglaterra e outros países terão de adicionar um capítulo em seus manuais: "Jejum, oração e silêncio como armas poderosas na Política". Imagine, não seria a fortuna de toda a humanidade se estes métodos do não batizado Gandhi substituíssem o método do batizado Maquiavel em ciência política?

Mas não é o método em si do indiano o que causa surpresa no mundo inteiro, senão a pessoa que dele faz uso. O método é cristão, tão antigo quanto a fé cristã e ainda tão recente em nossa era. O exemplo de jejum, oração e silêncio foi ensinado por Jesus aos seus discípulos. Este o entregou à Igreja, juntamente com todo o seu exemplo, e a Igreja entrega aos fiéis de geração em geração até hoje. O jejum é um sacrifício, o silêncio é um exame interior de si mesmo e a oração é um gemido a Deus. Aquelas três fontes de grande poder espiritual que fazem o homem vitorioso na batalha e perfeito na vida. Há algum homem que não possa se armar com tais armas? E que força bruta pode derrotar tais armas? É claro que estas três coisas não incluem toda a fé cristã, mas apenas uma parte de suas regras, seus mistérios sobrenaturais.

Infelizmente, em nosso tempo, entre os Cristãos, muitos destes princípios são desconsiderados e muitos prodígios maravilhosos são esquecidos. Pessoas começaram a pensar que se ganha apenas pelo uso do aço,  que a fumaça que chega é dispersa apenas pelo canhão, que as doenças são curadas apenas por pílulas, e que tudo no mundo pode ser explicado simplesmente pela eletricidade. Energias morais e espirituais são vistos como obras de magia.

Eu penso que esta é a razão para que a sempre ativa Providência tenha escolhido Gandhi, um homem não batizado, para servir de aviso aos batizados, especialmente aqueles batizados em que se acumula uma desgraça atrás da outra sobre eles e seu povo pelo uso de meios cruéis e homicidas.   

O Evangelho nos conta que a Providência algumas vezes nos dá tais avisos para o bem do povo. Vossa Graça perceberá que estou aqui fazendo alusão ao capitão romano de Cafarnaum (Mateus 8). Por um lado você vê os anciãos de Israel os quais, por serem os monoteístas escolhidos de seu tempo, se assoberbaram de sua fé, e assim rejeitaram Cristo e, por outro lado, você vê o desprezado romano pagão que veio a Cristo com grande fé e humildade, pedindo-lhe para curar seu servo. E quando Jesus o ouviu, Ele ficou atônito e disse aos que o seguiam: "Verdadeiramente Vos digo, nem mesmo em Israel encontrei uma Fé como esta".

O mundo cristão é o da novidade, o Israel batizado. Escutai! Cristo não está falando as mesmas palavras hoje para a consciência dos anciões cristãos apontando ao líder de hoje da Índia?

Paz e saúde da parte do Senhor para ti.